Como ajudar as crianças a lidarem com a morte? - Diersmann

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Como ajudar as crianças a lidarem com a morte?

O luto é uma experiência difícil para todos – também para as crianças, que exigem um cuidado especial.

Os adultos têm geralmente o benefício da experiência, podendo perspetivar a perda com maior segurança. Esse não é o caso das crianças. Enquanto os adultos podem ter descoberto previamente várias maneiras de enfrentar a dor – tendo estabelecido estratégias para a ultrapassar, já que outros conseguiram fazê-lo – as crianças não possuem este referencial. São surpreendidas pela morte de um ente ou amigo querido e não sabem o que é a morte, nem, por consequência, como lidar com ela. Porém, as crianças precisam de ser ajudadas, não devendo os adultos descurar as características do seu luto. Com este, as crianças aprendem uma das realidades mais claras da existência humana: que todos os seres humanos nascem, vivem e morrem. Aprender a aceitar a morte é, sem dúvida, uma das lições mais importantes que uma criança aprende na vida.

A psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz explica que muitos pais têm a tendência de não serem claros com os filhos nesse momento, com medo de que eles sofram ao saberem da verdade. Dizer que um avô está agora dormindo para sempre, por exemplo, pode ser até traumático para elas. “A frase ‘Vovô dormiu para sempre’, pode fazer com que a criança passe a ter medo de dormir e ter o mesmo destino daquela pessoa”, comenta.

Permitir que as crianças coloquem seus sentimentos à mostra também colabora para que elas superem o momento. Essa postura pode ajudá-las a se desenvolver e mostrar que, mesmo em momentos difíceis, a família está presente para dar suporte. “Ela precisa chorar, ficar triste e sofrer, para que se desenvolva. E precisa ver que tem apoio em momentos como esse”, diz a especialista.

 

• Sinais do luto

A compreensão da morte varia de acordo com a idade da criança, segundo o psicólogo especializado em luto Luís Henrique Michel. Segundo ele, até por volta dos cinco anos a criança vê a morte como algo que pode ser revertido. Depois, porém, entre os cinco e os nove anos, ela vê a morte como algo que é o final da vida, mas acredita que pode escapar de sua própria morte. Só a partir dos nove, em geral, ela costuma compreender que a morte é mais do que um final: é algo inevitável.

“Ainda assim, o modo de uma criança receber a morte nunca será exatamente igual ao de outra”, diz Michel. É fundamental ver nesse momento a importância que aquele que faleceu tinha na vida da criança. “É sempre importante questionar: ‘Qual o lugar que aquele que faleceu ocupava na vida do enlutado?’ Todo luto é único, porque toda relação é também singular”, completa.

Segundo Ana Caroline, é possível que a criança tenha reflexos da dor da perda em seu próprio corpo. Ela pode experimentar falta de apetite, dor de barriga e até tremores. O problema é que as crianças nem sempre conseguem associar o que estão sentindo com a situação que estão vivendo. Por isso, cabe aos pais prestar atenção a pequenas alterações de comportamento ou, durante o processo do luto, fazer perguntas simples a elas, como: “Você está sentindo alguma dor na cabeça?”, “Você percebeu alguma coisa diferente em você?”

Aprender a aceitar a morte é, sem dúvida, uma das lições mais importantes que uma criança aprende na vida

• Esquecer ou superar?

Assim como acontece com os adultos, a criança vai perceber a ausência da pessoa querida no seu dia-a-dia. Para Michel, é necessário entender que o luto é uma vivência natural que surge a partir da morte de um ente querido – não há como superar ou esquecer, mas sim, encontrar um novo espaço para aquela pessoa na vida dos que ficam. Não será o mesmo lugar, porque aquele que faleceu já não está ali enquanto corporeidade, segundo o especialista, mas será uma memória preservada.

“Ela já não fala, não abraça, não se emociona. No entanto, ela se mantém ‘preservada’ em termos de valores, sonhos, lembranças e costumes”, explica Michel. Aprender a lidar com essa “presença-ausente” é o desafio de todo enlutado, independentemente da idade.

Para as crianças, ainda, livros e filmes podem ser usados pelos pais no momento de ajudar a criança a passar por esse momento. Ana Caroline diz que há literaturas e filmes que abordam especificamente essa questão e que os pais podem e devem lançar mão desses recursos ao ajudar os filhos. “É possível usar os personagens para debater com a criança sobre aquela questão. O livro O passarinho de Júlio morreu, e agora? é um título que pode auxiliar, e filmes como O Rei Leão também”, diz ela. A morte para a criança deve ser ensinada como algo com que se deve lidar durante a vida. É importante mostrar que, mesmo que a morte pareça ser uma experiência ruim, Deus não abandonou aquela pessoa que faleceu e nem mesmo os que ficaram – sem colocar a “culpa” em Deus.

 

• Qual a melhor forma de ajudar a criança durante o luto?

Demonstre que, como ela, você também está sofrendo e sente saudades. Deixe que a criança fale sobre seus sentimentos e, acima de tudo, dê apoio e acolhimento. Garanta que ela nunca estará sozinha e sempre haverá alguém para cuidar dela. Isso porque o ente que se foi pode ser um dos pais ou o pequeno pode começar a pensar na mortalidade deles. Não exclua as crianças das conversas, da tristeza. Ouça o que elas têm pra falar ou peça para que desenhem o que estão sentindo.

Considere a ajuda de um psicólogo e até da escola. É importante que a criança sinta que tem o apoio e a atenção dos colegas e dos professores. Como acontece com os adultos, a memória afetiva nunca vai desaparecer. Mas, depois de certo tempo, acontece o chamado luto saudável, quando se percebe que é possível se lembrar do ente querido de forma leve e sem sofrimento.

 

Fonte: Angélica Favretto, Sempre Família https://www.semprefamilia.com.br/como-ajudar-as-criancas-a-lidar-com-a-morte-de-um-parente/)

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